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Deputado apresenta projeto que desqualifica o topless como ato obsceno em áreas públicas do Rio

8 de fevereiro de 2022

/ by visao surubim

 Segundo o site https://www.folhape.com.br/noticias: 'O topless incomoda porque está relacionado à liberdade da mulher que decidiu, do jeito dela, que prefere tomar sol daquela maneira', diz pesquisadora

Ninguém sabe ao certo quem foi a primeira mulher a desamarrar o sutiã nas praias do Rio, mas vez ou outra o topless ganha destaque e vira polêmica. Dessa vez, o assunto girou em torno da produtora Ana Beatriz Coelho, que foi detida e levada para uma delegacia por ficar com os seios à mostra no litoral do Espírito Santo. Ela chegou a ter algemas colocadas nos pés. Revoltado com a história, o deputado estadual Carlos Minc (PSB) apresentou um projeto de lei para que o ato de ficar nu na parte de cima em áreas públicas não seja considerado "obsceno".

— Fiquei muito revoltado. Uma mulher fazendo topless não pode ser algemada. Tentaram enquadrá-la no artigo da Constituição que fala sobre atos obscenos. Mas não há lei que coloque o topless como ato obsceno. Obscenidade está na cabeça dos moralistas — explica o parlamentar, destacando a tradição legislativa de defender a liberdade: — Tenho projetos a favor do naturismo e, há pouco tempo, ajudei a barrar uma lei que proibiria o aleitamento em local público, também classificando essa atitude belíssima como ato obsceno. O projeto abre uma discussão mais ampla.

Ana Beatriz, que é ex-namorada da atriz Camila Pitanga, foi detida, levada para uma delegacia e, após ser liberada, pontuou a diferença de tratamento entre mulheres e homens. "O mais irônico é que ao meu lado na delegacia tinha um homem sem camisa. Nem dentro de uma delegacia um homem precisa estar vestido", escreveu ela, nas redes.

Hoje em dia, a atitude é tipificada pelas autoridades como ato obsceno, de acordo com o artigo 233 do Código Penal brasileiro. O crime de ato obsceno tem pena estipulada entre três meses e um ano de prisão ou multa.

O texto do projeto do Minc, que ainda será apresentado no Plenário da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), cita que "o ato humano de não cobrir o corpo da cintura para cima, praticado por pessoa de qualquer gênero, em qualquer ambiente público no Estado do Rio de Janeiro, não poderá ser tipificado pelas autoridades como ato obsceno para efeito do que dispõe o artigo 233 do Código Penal". Segundo Minc, a lei não limita o ato do topless às praias do Rio.

— Uma coisa é a pornografia, algo obsceno. Outra é uma moça numa praia fazer topless. Pelo amor de Deus... A liberação não é apenas para as praias. A ideia é desconsiderar que esse ato seja enquadrado como crime obsceno.

A professora e pesquisadora Maria Carolina Medeiros aponta ser complicado reduzir a questão a isso e achar que os problemas das mulheres serão resolvidos desta maneira em meio a uma "sociedade atual machista e misógena".

— É preciso problematizar por que o corpo da mulher é facilmente sexualizado e identificar em quais circunstâncias o ele é bem visto nu ou não. O topless incomoda porque está relacionado à liberdade da mulher que decidiu, do jeito dela, que prefere tomar sol daquela maneira. A nudez feminina só é exaltada quando ela tem a finalidade do prazer masculino. Na praia, quando não há essa intenção, a nudez vira um grande problema — argumenta Maria Carolina.

Maria Clara é doutoranda em Comunicação na PUC-Rio e tem como objeto de pesquisa a socialização feminina a partir da disciplinarização sobre o corpo da mulher. Ela explica que, para o topless ser naturalizado, é preciso que haja uma desconstrução para que o significado do topless passe a ser outro, de empoderamento, e não sexualizado.

— Tudo é fruto de uma construção social que, em relação à mulher, colocou a parte de cima do corpo como algo sexualizado e que precisa estar coberto. Não é simples equiparar homens e mulheres nisso. É histórico. O homem foi criado para confirmar os seus desejos e ações, enquanto a mulher foi criada para contenção do seu corpo. Hoje, não é simples querer que, da noite para o dia, uma mulher fique com os seios à mostra em meio ao machismo atual.

Camila Pitanga postou em seu Twitter no dia 21, uma manifestação de solidariedade à ex-namorada. Camila classificou o episódio como “absurdo e constrangedor” e disse que Beatriz sofreu “uma violência policial claramente motivada pelo machismo e homofobia”.

“Minha solidariedade à Bia, que ontem sofreu uma violência policial claramente motivada pelo machismo e homofobia.

Bia estava na praia com uma amiga e fazia topless, acabou na delegacia algemada pelos pés como vocês podem ver na imagem. É absurdo e constrangedor.”, publicou a atriz.

Patrícia Casé, irmã de Regina Casé, entrou para a história ao ter tido a foto estampada em jornais e revistas só com a parte de baixo do bíquini, nas areias de Ipanema em outubro de 1979. O modismo foi crescend até que, em fevereiro de 1980, o topless acendeu o debate sobre o pudor e os direitos das mulheres de exibirem seus corpos. Duas garotas que tomavam sol sem sutiã quase foram linchadas por banhistas. A confusão terminou na polícia.

As duas meninas eram a desenhista de moda Veronica Maieski e a advogada trabalhista Maria Helena Autuori. Quando decidiu abolir o sutiã, ela tinha 16 anos e viu sua vida virar de cabeça para baixo. Ouviu palavras obscenas e teve que sair da escola tradicional em que estudava. Já Verônica, no auge da confusão, chegou a ser chamada de Geni, numa alusão à prostituta da canção "Geni e o zepelim", de Chico Buarque, música lançada um ano antes.

A novidade foi parar na novela "Água viva", de Gilberto Braga e Manoel Carlos, da TV Globo. As personagens das atrizes Maria Padilha, Tônia Carreiro e Maria Zilda faziam topless quando foram abordadas por uma banhista ofendida. A cena terminava com a personagem de Tônia esbofeteando o guarda chamado para repreendê-las. O público que assistia à gravação aplaudiu. Quatro anos mais tarde, em 1984, foi a vez da atriz norte-americana Demi Moore aparecer sem sutiã na Praia de Ipanema, numa cena do filme de comédia-romântica "Feitiço do Rio".

No verão de 2000, os seios de fora voltaram ao debate. A representante comercial Rosimeri da Costa foi presa na praia da Reserva Biológica do Recreio, após bater boca com policiais que insistiam para que ela usasse a parte de cima do biquíni. Acusada de “ato obsceno”, foi parar na delegacia. As autoridades discutiram se o topless era ou não liberado nas praias do Rio. Por fim, o então prefeito Luiz Paulo Conde decretou que era “o verão do topless”.

Um par de seios à mostra, mais uma vez, gerou discórdia na orla carioca. O episódio aconteceu na Praia do Arpoador, em 2013. Na ocasião, os atores Cristina Flores e Álamo Facó posavam para a campanha de divulgação da peça “Cosmocartas”, estrelada pelos dois. O sol se punha, havia pouca gente na areia. Bastou que ela tirasse a blusa para uma foto para o tempo fechar. Três policiais foram em direção a ela, que colocou a blusa conforme a ordem.

Em 2017, um ato pela liberdade roubou a cena também em Ipanema. Quatro mulheres realizaram um toplessaço em frente ao Posto 9 como forma de protestar contra a onda conservadora que crescia no país e na cidade, como no episódio do cancelamento das negociações para a exposição "Queermuseu" no Museu de Arte do Rio (MAR).

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