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Médico vivo depois do ataque: como uma pessoa sobrevive a tiros em vários órgãos?

7 de outubro de 2023

/ by visao surubim

 Segundo o site https://www.folhape.com.br/noticias: Ortopedista teria sido atingido com 14 disparos e sofrido lesões no tórax, intestino, pélvis, mão, pernas e pé

Daniel Proença, um dos médicos sobreviventes à execução - Foto: Reprodução/Instagram                                               O único do grupo de quatro médicos que sobreviveu aos disparos efetuados durante o ataque num quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, nesta quinta-feira, teria levado 14 tiros. Como mostrou O Globo, ele foi encaminhado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, onde passou por uma cirurgia de 10 horas. As demais vítimas morreram no local.

Agora, Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, está estável e respirando sem a ajuda de aparelhos. Mas o que faz com que o ortopedista tenha sobrevivido mesmo após tantos tiros enquanto os outros, que foram atingidos com cerca de cinco disparos cada um, não tenham resistido aos ferimentos?

Especialistas ouvidos pelo Globo explicam que os principais fatores que determinam a gravidade de um tiro são a distância e a velocidade da bala, o local do corpo atingido e a rapidez no atendimento.

— Existe uma energia de movimento, que é a mesma que faz com que a pessoa envolvida num acidente de carro em alta velocidade sem cinto sofra consequências muito graves. Quanto maior a velocidade da bala, e mais perto da vítima, maiores são os danos — diz o cirurgião geral Ricardo Lima, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e instrutor do curso avançado de atendimento ao trauma do Colégio Americano de Cirurgiões, ATLS (Advanced trauma Life Support).

O segundo fator, e o mais importante, é o local do corpo atingido, e quais órgãos foram lesionados. Isso porque quando a bala acerta um vaso sanguíneo considerado grande, o risco de hemorragia é alto, o que geralmente é a causa da morte imediata.                                                      — O que mais determina a mortalidade rápida é a hemorragia, o sangramento. Quando estruturas mais vascularizadas são atingidas, o quadro é crítico. É o caso dos grandes vasos, do coração, das veias e das artérias que vão para o pulmão, dos órgãos sólidos, como fígado, baço e rins, porque sangram bastante — explica Leonardo Emilio, chefe de equipe cirúrgica do Hospital Israelita Albert Einstein (Unidade Goiânia) e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).

No caso do cérebro, Lima explica que um grande problema, além de ser um órgão vital, é que se trata de uma cavidade dura, que não se expande. — Então se você tem um sangramento ali, isso vai empurrar o cérebro, porque ele não tem para onde ir. Essa compressão pode oferecer um alto risco — explica.

As lesões sofridas por Daniel foram no tórax, intestino, pélvis, mão, pernas e pé. As de maior preocupação seriam, portanto, as no tórax e no intestino, justamente pela vascularização dos órgãos presentes na região. As demais, ainda que possam causar ferimentos graves, não costumam ser associadas à morte instantânea, explica o ortopedista e cirurgião de mãos Leonardo Kurebayashi:

— As extremidades do corpo, como os pés e as mãos, imputem um menor risco ao paciente, principalmente devido ao sangramento ser mais facilmente controlado pelo tamanho menor dos vasos nessas regiões, reduzindo a chance de hemorragia grave — diz.                                            Já os tiros que atingiram o tórax poderiam ter alcançado estruturas importantes, como o pulmão e o coração. No entanto, a lesão mais grave de Daniel foi a do intestino. O órgão não está entre os de maior preocupação normalmente, porém uma bala acertou uma artéria no local.

— As lesões no intestino precisam ser operadas, mas geralmente o risco é maior a longo prazo, porque pode causar um vazamento de conteúdo intestinal para dentro da cavidade e gerar uma infecção. Por isso o acompanhamento após a cirurgia é muito importante — explica Lima.

Segundo a equipe médica, o ortopedista encontra-se em estado estável. Em um vídeo publicado nas redes sociais, ele diz: "Pessoal, eu tô bem, viu? Tá tudo tranquilo graças a Deus. Só algumas fraturas, mas vai dar certo".

Por fim, o cirurgião aponta que terceiro fator que influencia o desfecho da vítima, mesmo em locais do corpo em que um tiro tem menos risco de gerar uma hemorragia imediata, é a rapidez no atendimento, que pode ser a diferença entre a vida e a morte.                                                                  — Os órgãos com menor risco de hemorragia instantânea vão causar lesões e sangramentos cujo desfecho vai depender do tempo em que a pessoa é atendida. Se for um sangramento mediano, e o atendimento é rápido, dá para interrompê-lo, repor o sangue perdido e operá-lo a tempo. Se demorar, o quadro pode ser irreversível — diz o professor da Unirio.

O médico atingido no quiosque da Barra foi encaminhado para a sala de cirurgia cerca de 14 minutos após ter dado entrada no Hospital municipal Lourenço Jorge. Caso tivesse demorado mais tempo, o desfecho poderia ser outro.

— Essa primeira hora que se segue ao traumatismo é chamada de hora de ouro. É quando temos a maior probabilidade de reconhecer e tratar aquelas lesões que oferecem o maior risco à vida. Nesse momento é preciso ser muito rápido — complementa Emilio, da UFG.

Agora, embora estável, os próximos passos são cruciais para evitar sequelas e garantir uma boa recuperação dos ferimentos, explica o médico intensivista Luís Fernando Correia, membro do Colégio Americano de Médicos:                                                                                                    — Depois da fase crítica de atendimento de emergência, e das cirurgias para salvar a vida do paciente, entramos num segundo tempo em que, dependendo das lesões causadas pelos disparos e pela extensão das cirurgias necessárias, o suporte clínico e a reabilitação das funções normais da vida do paciente podem levar um tempo. Nessa segunda etapa, cuidados para se evitar infecções secundárias e prevenção de problemas causados pela imobilidade no leito são fundamentais.

Kurebayashi explica ainda que se houver lesões ósseas e nos tendões nas extremidades atingidas, pode ser necessária uma nova cirurgia definitiva para corrigi-las após estabilização clínica do paciente.      

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