O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, diz que o quadro pode ser explicado por alguns fatores, dentre eles uma vida sexual mais ativa, a vulgarização da aids entre os jovens e a dificuldade de se comunicar com eles. “Os jovens têm mais parceiros sexuais e entre eles existe uma ideia de que ter aids não é um problema. Mas isso não é verdade, a aids se tornou uma doença crônica, mas é grave e exige medicação a vida toda”, destaca.
Ele também ressalta que a doença já não é mais pautada pela imprensa como antigamente. “Mas a educação sexual precisa ser um ato contínuo porque as gerações se sucedem e elas são distintas, cada uma tem sua necessidade”, analisa.
“Além disso, de maneira geral, eles não gostam de ler. Então, precisamos disseminar informação de maneira rápida e curta, coisa que não é simples se tratando de HIV”, completa o especialista.
No final de novembro, o Ministério da Saúde estimou que 135 mil brasileiros vivem com HIV sem saber.
O infectologista Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia, ressaltou em entrevista ao R7 no começo deste mês que o vírus causador da aids é silencioso.
“É uma infecção assintomática. A maior parte [das pessoas] só vai descobrir se fizer o exame para detecção do HIV”, afirma. “Se alguém não fez o exame, pode ser que o quadro evolua depois de anos e a doença [aids] se manifeste”, explica.
Desde o ano de 2012, há uma diminuição na taxa de detecção de aids no Brasil, que passou de 21,4 a cada 100.000 habitantes em 2012 para 17,8 no ano de 2018 – uma diminuição de 16,8%, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.
Por sua vez, Suleiman ressalta que existem desafios no combate à transmissão do HIV e, consequentemente, da aids. O primeiro deles é oferecer de maneira uniforme as profilaxias pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP) ao vírus.
“Tanto no centro como na periferia, onde se concentra grande parte da população vulnerável”, afirma. Outra necessidade é fazer com que todos tenham acesso ao tratamento. “Existe uma fila de espera por consulta no SUS que dura em média três meses depois que a pessoa descobriu que tem HIV”, diz o infectologista.
Mais de 300 mil casos de infecção por HIV foram notificados no ministério de 2007 até junho de 2018. A maioria deles veio das regiões sudeste e sul.
Mas é preciso analisar esses dados com cautela e considerar a desigualdade que existe no Brasil.
“São regiões com maior visibilidade. Em outros lugares o acesso a serviços de saúde é mais complicado. Muitas vezes, as pessoas não procuram assistência porque não têm conhecimento sobre esses serviços, embora eles existam”, analisa o médico.
Detecção do HIV aumenta em gestantes
Por outro lado, entre 2008 e 2018, houve um aumento de 38,1% na detecção de HIV em gestantes: passou de 2,1 para 2,9 casos a cada mil nascidos vivos. A ampliação do diagnóstico no pré-natal é uma das explicações para esse fato.
“É preciso oferecer testes para todas as mulheres que estão fazendo o pré-natal, isso previne a transmissão [do HIV] para o bebê”, enfatiza Suleiman. “Quanto mais precoce o tratamento para a mãe infectada, melhor, porque maior é a chance de prevenção”.
De 2000 até junho de 2019, foram notificados no Sinan mais de 125 mil casos de gestantes infectadas por HIV – 4.500 foam no primeiro semestre deste ano. A maioria tem entre 20 e 24 anos: são 28% do total.
São Paulo elimina transmissão do HIV de mãe para filho
Em novembro de 2019, São Paulo foi reconhecida como o terceiro município do Brasil a eliminar a transmissão do HIV de mãe para filho. Com 12,1 milhões de habitantes, é a cidade com maior população do mundo a receber o reconhecimento, de acordo com o ministério.
O município de Curitiba foi o primeiro a ser certificado no país, em 2017, seguido por Umuarama, no noroeste do Paraná, em 2019.
“São Paulo conquistou esse avanço porque tem um serviço de vigilância epidemiológica bem estruturado. Mas isso não é unânime em todo o país. Outras regiões, como o nordeste têm dificuldade de acesso aos serviços de saúde, o que impede consultas médicas e a prevenção”, pondera Suleiman.
Grávidas com HIV podem ter bebês saudáveis
Apesar da evolução nas formas de tratamento e prevenção, a Aids (síndrome da imunodeficiência adquirida), continua a ser uma preocupação da população mundial e de saúde pública. Segundo dados do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas), 14 mil pessoas morreram no Brasil em decorrência do vírus HIV, em 2016.
A organização ainda estima que 830 mil pessoas vivem com a doença no País, sendo que o Brasil é o que mais concentra novos casos de infecções na América Latina (49%). Mesmo sendo mundialmente conhecida, a Aids ainda causa muitas dúvidas.
Por isso, a professora do Departamento de Saúde Coletiva da FCMSCSP (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo), Maria Amélia de Sousa Mascena Veras esclarece mitos e verdades sobre a síndrome. Veja a seguir:
— Se já estiverem em tratamento ou o iniciarem o quanto antes, o risco de transmissão para o bebê é quase zero
— O HIV é transmissível apenas por contato sexual ou pelo sangue
A especialista explica que apesar de ter menos riscos se comparada ao sexo anal e vaginal, a pessoa também pode contrair a doença no sexo oral.
— As chances aumentam se houver alguma ferida aberta ou ejaculação na boca
A professora ressalta que HIV é o vírus, que pode ou não se manifestar em sua síndrome (Aids)
A professora ressalta que HIV é o vírus, que pode ou não se manifestar em sua síndrome (Aids)
— Além do teste pelo sangue, já existe o teste de fluido oral, que é capaz de detectar a presença de anticorpos para o HIV na saliva
Apesar de ter uma chance muito grande de que a pessoa não esteja infectada, se ela tiver sido exposta ao HIV durante a chamada de janela imunológica – período que o organismo necessita para desenvolver anticorpos detectáveis nos exames –, pode haver infecção com resultado negativo, afirma Maria.
— Vale lembrar que, para os testes disponíveis no sistema público de saúde, considera-se como janela imunológica o período de 30 dias após situação de risco. Caso a pessoa acredite ter se exposto durante esse período, recomenda-se repetir o teste 30 dias depois
Apesar de ter uma chance muito grande de que a pessoa não esteja infectada, se ela tiver sido exposta ao HIV durante a chamada de janela imunológica – período que o organismo necessita para desenvolver anticorpos detectáveis nos exames –, pode haver infecção com resultado negativo, afirma Maria.
— Vale lembrar que, para os testes disponíveis no sistema público de saúde, considera-se como janela imunológica o período de 30 dias após situação de risco. Caso a pessoa acredite ter se exposto durante esse período, recomenda-se repetir o teste 30 dias depois
Maria explica que portadores de HIV têm um risco maior de desenvolver problemas de saúde como infecções oportunistas (tuberculose, toxoplasmose etc.) e alguns tipos de câncer.
— No entanto, pessoas que iniciam o tratamento cedo e o fazem da maneira correta, diminuem significativamente esses riscos. Atualmente, há muitas pessoas vivendo com HIV com a mesma expectativa de vida de pessoas não-infectadas
O HIV tem diversas formas de transmissão, inclusive pelo sangue, explica a professora.
— O sexo com penetração é um dos que oferecem maior risco, especialmente se houver ejaculação ou feridas abertas em qualquer um dos órgãos envolvidos (pênis, ânus ou vagina)
— Entretanto, é preciso lembrar que interromper o tratamento vai fazer com que o vírus volte a se multiplicar, além de favorecer sua mutação em formas mais resistentes aos medicamentos disponíveis
Nenhum método de prevenção é 100% eficaz, mas o preservativo tem um grau de proteção muito alto, próximo a 100%, se utilizado da maneira correta, explica a especialista.
— Recomenda-se, especialmente no sexo anal, que ela seja utilizada junto a um gel lubrificante à base de água, uma vez que o ânus não possui lubrificação natural e a camisinha pode se romper com o atrito
Nenhum método de prevenção é 100% eficaz, mas o preservativo tem um grau de proteção muito alto, próximo a 100%, se utilizado da maneira correta, explica a especialista.
— Recomenda-se, especialmente no sexo anal, que ela seja utilizada junto a um gel lubrificante à base de água, uma vez que o ânus não possui lubrificação natural e a camisinha pode se romper com o atrito
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