![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNDhYgfqkDluoAhftB419d9kYdlOE2YCvwB0InDvQC1554oAcVSOz4RXVC7gZEt5WrQFIX8F45ctd49gV0KB-vwM_H5cuAACXLF3rLEDjh3qJd2FkZ5B3f4QNSA5PVzuPPN1Qvy8TMUNI/s640/holiday-recife.jpg)
O Edifício Holiday foi projetado por Joaquim Rodrigues e segue uma tradição artística ligada ao modernismo. Com 17 andares e 476 apartamentos, o prédio, junto com o Edifício Califórnia, seu contemporâneo também localizado em Boa Viagem, é um dos primeiros arranha-céus do Recife, hoje fortemente marcado pela verticalização.
A importância do Holiday e de sua arquitetura, nos anos 1950 e 1960, se mistura com a própria história de Boa Viagem, bairro que, atualmente, tem um dos metros quadrados mais caros da capital pernambucana.
Segundo o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU-PE), Rafael Amaral Tenório, a ocupação do bairro, tendo em vista sua distância em relação ao Centro da cidade num tempo em que vias asfaltadas ainda eram raras, tem relação direta com a instalação de seus primeiros arranha-céus. O nome de Boa Viagem se deve, inclusive, ao fato de que o bairro era utilizado principalmente para veraneio."Anos antes da instalação de prédios como o Holiday, Boa Viagem era como a Porto de Galinhas [praia em Ipojuca, no Litoral Sul] da época. O que tinha lá eram fazendas, com casas espaçadas umas das outras. Imagine só, do dia para a noite, colocarem 2 mil pessoas dentro daquele prédio. Isso impactou definitivamente o bairro e ajudou na sua ocupação", afirma. De acordo com o arquiteto e professor do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Fernando Diniz, os edifícios Holiday e Califórnia trouxeram ao Recife uma proposta de habitação à classe média: edificações verticais, apartamentos pequenos e, principalmente, a mistura entre comércio e habitação no mesmo local. Os dois edifícios foram pensados para servir como segunda residência, pela proximidade da praia.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCv3d9uhPX9C3R8y4qprMu0B3oRTImT8HxeEbz-JhyOqpBFohCpgUeVvRvDBtmuxJ6oE-ZLwmi7-mqFFkmwBGIv20-NJVlvcUMmhw0HdSKt8tTG3Y9ad4RpEPKhl21MRh_0ed5fqLndpw/s640/boa-viagem-recife.jpg)
Os elementos arquitetônicos do Holiday também marcaram uma era na estética dos prédios da cidade. O Holiday tem três blocos, com dois térreos e uma torre principal. Em todos os andares, há apartamentos tipo quitinete e com dois quartos.
Nos últimos anos, os 476 apartamentos do Holiday serviram de casa para mais de 3 mil pessoas, segundo o condomínio. Na quarta (20), último dia do prazo judicial, restavam 45 famílias que resistiam em deixar suas casas. A administração do prédio entrou com um agravo de instrumento para recorrer da decisão da Justiça de interditar a edificação. A partir desta quinta (21), os moradores podem ser removidos à força pelos agentes de segurança estaduais e municipais.
Além disso, há apartamentos usados como depósito de material de comércio de praia. Os bombeiros apontam que 80 carroças são guardadas na edificação. de acordo com o presidente do CAU-PE, falhas na gestão do edifício fizeram com que ele chegasse à situação atual, que, segundo a Defesa Civil do Recife, apresenta um grau de risco nível 3, numa escala de 1 a 4. Rafael defende que a interdição é importante para preservar as vidas dos moradores. "Todos os síndicos deixaram sua contribuição para o Holiday, mas são mais de 400 apartamentos, sem técnicas administrativas. Se temos dificuldades em gerenciar prédios de médio porte, imagine um como o Holiday. A deterioração foi crescendo, e o lugar virou um campo minado. A todo momento, em qualquer lugar, pode acontecer algo. Mais importante é preservar a vida, porque um incêndio no terceiro andar faria todo o prédio pegar fogo em menos de uma hora", diz.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_R07eiyYEozxCUPELCmhyphenhyphenbGN1xvnlqcoeRDF0ToZh1DHg44RrTH5smztEhFSnwXwOrweMc647Z29H7C4qPZCHn6Jvk6diO-niOqr_gjSAetDE0cebPsho5LUDKRnPukaSU-O0ZYG2osU/s640/holiday-recife-17-.jpeg)
Desde o início de sua história, o Holiday foi marcado por casos de homicídios, suicídios, roubos, tráfico e consumo de drogas e prostituição, vindo a ser por vezes chamado de "favela vertical". Segundo Fernando Diniz, as falhas na gestão e conservação ajudaram para isso.
"A má fama do Holiday vem desde, ao menos, os anos 1970. Eu lembro, criança, que a degradação já era presente lá. Também circulam boatos de que muitos senhores usavam o lugar para levar garotas de programa. O fato é que o Holiday era uma oferta muito experimental para a sociedade da época e era de veraneio. Muito rapidamente, famílias mais abastadas foram mudando-se para outros prédios, e os imóveis foram se desvalorizando", afirma.
Entrave
De acordo com o presidente do CAU-PE, uma alternativa aos moradores do Holiday seria utilizar o Serviço de Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social, um direito garantido por lei, para promover orientação de arquitetos e urbanistas em obras de forma gratuita. O entrave de ser um prédio privado impede a realização dessa ajuda. "O problema é que o Holiday precisa ser qualificado como Habitação de Interesse Social para receber auxílio público. É possível encarar o Holiday como um Minha Casa Minha Vida. Temos a oportunidade de requalificar e dar condições dignas de moradia a mais de 2 mil pessoas. É preciso encontrar um meio-termo entre deixá-los lá, em risco, e tirá-los sem pensar no impacto social", diz.
Ainda segundo Rafael, a restauração do Edifício Copan, em São Paulo, é um exemplo a ser seguido pelo Holiday. A obra foi orçada em R$ 23 milhões, e a administração do prédio contou com a ajuda da iniciativa privada para obter os recursos.
"O Copan se modernizou ao longo do tempo. Hoje, ele tem uma população muito heterogênea, de pessoas muito pobres a ricas. Tem muitos estabelecimentos comerciais, restaurantes. É um prédio que atua de forma mista para abrigar comércio e residência", declara.
Nenhum comentário
Postar um comentário