A nova face do trabalho: Reforma alterou mais de 100 pontos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) (Crédito: Roberto Castro Depois de estudar por anos alterações para melhorar o desempenho na produção, a fabricante de calçados infantis Kidy conseguiu tirar do papel o plano de reduzir o horário de almoço dos funcionários para que eles pudessem terminar antes o expediente e voltar mais cedo para casa. Embora a ideia já fosse apoiada pelos empregados, só se tornou realidade com a entrada em vigor, em novembro do ano passado, da reforma trabalhista, que afastou o receio do grupo de uma nova frente de processos na Justiça. “Quando a gente faz um horário diferenciado que beneficia o trabalhador, a produtividade aumenta”, afirma o sócio-fundador da companhia, Sérgio Gracia. “O reflexo é imediato.” A revisão da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) tinha como objetivos principais dar flexibilidade aos contratos, reduzir a cultura de embate entre as partes e ampliar a segurança jurídica. Para a calçadista, que observou uma redução de cerca de 60% nas novas demandas judiciais após a implementação do texto, um novo ambiente de negócios começa a se desenhar no País.A fabricante conta hoje com cerca de 2.000 funcionários, distribuídos em três unidades produtivas e espera aprofundar as mudanças mais adiante para melhorar a competitividade frente aos concorrentes asiáticos. Uma das alterações que entraram no radar agora é a possibilidade de diminuir a equipe responsável por lidar com os processos trabalhistas, diante da expectativa de que o número de ações se manterá num nível menor do que o observado até então. “Percebemos que os advogados trabalhistas ficaram com muito mais medo de entrar com ações contra as empresas”, afirma Gracia. A maior cautela é consequência de uma regra estabelecida na reforma que obriga a parte perdedora a arcar com os custos do processo. Antes, o risco do ônus financeiro ao autor da ação era quase inexistente. Os dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST) mostram uma nova realidade nas disputas da área. De dezembro de 2017 a maio deste ano, o volume de novas ações caiu 40% em relação ao mesmo período anterior, para 774.600 causas.
Em obras: estudos da Pacaembu Construtora para implementar algumas mudanças nas regras aos seus funcionários esbarraram no temor de consequências jurídicas. Na foto, canteiro de construção da empresa no interior de São Paulo (Crédito:Divulgação)
Para os especialistas da área, esse novo patamar veio para ficar. A indicação é de que, apesar das diversas dúvidas que ainda pairam sobre o texto, a reforma “pegou”. “As novas regras obrigam um autoquestionamento por parte dos advogados se a causa realmente faz sentido”, afirma Jorge Gonzaga Matsumoto, sócio do Bichara Advogados e doutor em Direito do Trabalho. “Com esses fatores na balança, diminuiu a margem para aventuras.” Esse novo risco ficou evidente num dos primeiros processos julgados após a entrada em vigor da reforma. Um juiz condenou um trabalhador a pagar R$ 8,5 mil de custas numa ação em que pedia R$ 50 mil de indenização por ter sido assaltado a caminho do serviço, além de horas extras que não foram comprovadas. Entre os fatores que vêm contribuindo para a avaliação mais realista dos advogados da área, estão ainda regras mais rígidas para obtenção do benefício da Justiça gratuita e o risco de que o trabalhador tenha de arcar ainda com o custo da perícia em caso de decisão desfavorável.

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