O mato impede que chamemos aquela trilha de calçada, de forma que somos obrigados a caminhar pela avenida, rentes à sarjeta.
Os carros sobem apressados e nenhum motorista se digna a nos dar uma carona.
Eu vou preguiçoso, pulando de sombra em sombra.
A alguns quilômetros, o Ituiutaba Clube deve estar cheio. Gosto de observar os adolescentes na fila, contando as notas e declarando um amor perigoso à juventude.
Eu também tenho quinze ou dezesseis anos e cobiço as surpresas do mundo.
O corredor que desemboca no salão recolhe em seus bancos de alvenaria foliões cansados.
Espio os casais, as rodas de amigos e às vezes me lembro de alguém.
Lá dentro, as marchinhas agridem meu ouvido adaptado às bandas de rock. Os trenzinhos contornam, barulhentos, a vida comum.
Escalo os degraus até o mezanino.
O cheiro de qualquer coisa química me impede de prosseguir.
Me debruço no parapeito e acompanho as cabeças inquietas com a música:
Atravessamos o deserto do Saara,
O sol estava quente,
Queimou a nossa cara,
Alá-lá-ô, ô ô ô ô ô ô
Mas que calor ô ô ô ô ô ô…
Um tapa nas costas me desperta. É um colega da escola. Nos cumprimentamos e ele me estende um copo. Recuso, agradecido. Logo desaparece na euforia da matinê.
Desço para o tumulto. Três mascarados aterrissam ao lado, ofegantes. Sondam, de esguelha, o porto em que atracaram e levantam voo novamente.
Me dirijo para os portões de saída.
As sibipirunas coam o mormaço e pequenos grupos se hidratam, alvoroçados.
Eu só queria desertar toda aquela certeza. Eu só queria escapar para algo melhor, urgentemente, longe dali.
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