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Idosos amargam um ano na fila por consultas

29 de agosto de 2016

/ by visao surubim
Segundo o site Por: Fernando Granato 
fernando.granato@diariosp.com.br Lei federal determina o acesso rápido aos serviços de saúde para pessoas com mais de 60 anosIracema vendeu as alianças para pagar consulta / Nico Nemer/DiárioSP
Demorou um ano para conseguir o encaminhamento de um clínico-geral para um ortopedista. Depois, mais alguns meses para agendar a consulta com o especialista. Cansada de esperar pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e sem perspectiva de ter seu direito à saúde assegurado, a aposentada Iracema de Barros Lima, de 70 anos, vendeu as alianças de casamento dela e do marido  para pagar um médico particular.
O drama de Iracema começou há seis anos, quando levou um tombo no velório da mãe. De lá para cá vem sentindo dores fortes que se agravaram há um ano. Ela, então, procurou a UBS (Unidade Básica de Saúde) do Parque Paulistano, na Zona Leste, para uma consulta. 
“Somente no último dia 2 de agosto consegui o encaminhamento para o ortopedista, com hipótese de diagnóstico de artrose”, disse a aposentada, que vive com um salário-mínimo (R$ 880). “Mas me disseram que tem muita gente na fila na minha frente. Por isso vendi as alianças por R$ 400, paguei uma consulta por R$ 120 e ainda gastei mais R$ 110 para comprar remédio. O pior é que o remédio não está resolvendo.”
Casos como de Iracema não são isolados. Na Sepas (Sociedade de Ensino Profissional e Assistência Social), entidade que promove atividades e assistência a 220 idosos na Zona Leste, em convênio com a Prefeitura, a maioria  relata histórias  de descumprimento ao Estatuto do Idoso, lei federal de 2003 que garante a essa população o acesso à rede de serviços de saúde.
“O problema é que o sistema de saúde é deficiente e não consegue atender a demanda”,  respondeu  a promotora Anna Trotta Yaryd, que coordenou no Ministério Público do Estado de São Paulo a elaboração de uma cartilha para orientar a população idosa nos seus direitos junto aos serviços públicos de saúde (veja ao lado).
De acordo com Adriano Oliveira, gerente e gestor do Sepas, entre os casos mais graves dos idosos atendidos por sua entidade, além do de Iracema, está o de Marinalva dos Santos Pinto,  62. Ela  procurou a Rede Hora Certa de São Miguel Paulista em 22 de março de 2015 para agendar uma consulta com um ortopedista. O encaminhamento foi dado  pelo clínico-geral. A suspeita era de que ela tinha  um  cisto ósseo. 
Como a consulta não saía, em 8 de junho deste ano ela enviou à Coordenação de Saúde Leste uma carta, por meio da Sepas, dizendo que a demora fere a legislação federal.  O mesmo fez a também a aposentada Antonina Mendes Galvão Dias,  72. Ela  aguarda desde abril  por um exame de tomografia de coluna na UBS Jardim Maia, também na Zona Leste. “O mais curioso é que ainda fomos repreendidos pela Coordenação de Saúde por auxiliarmos essas idosas nas suas reivindicações de cidadania”, disse Adriano.
Maria Lindalva sente dores no peito / Nico Nemer/DiárioSP
‘Sinto que meu tempo está acabando e ninguém faz nada’
A autônoma Maria Lindalva da Silva, de 60 anos, está com o relógio andando contra ela. Com um caroço na axila direita, ela não sabe sequer se é  benigno ou maligno.  Ao procurar a UBS (Unidade Básica de Saúde) do Parque Paulistano, na Zona Leste, em fevereiro, o clínico-geral que a atendeu a encaminhou para um cirurgião, com hipótese de diagnóstico de um nódulo.
Seis meses depois, Maria Lindalva ainda não retirou o nódulo e vem sentindo fortes dores no peito, além de muito cansaço. Por isso, precisa também de um cardiologista mas, na UBS, disseram que ela pode desistir do atendimento antes de 2017. 
“O problema é que não sei se chego até lá”, disse a aposentada. “O cansaço só piora e o caroço não para de crescer.”
Para completar o drama da autônoma, ela está sem forças para trabalhar como copeira em eventos e, por isso, não tem renda.
“Vivo daquilo que recebo dia a dia em meu trabalho, já que não sou contratada”, disse. “Mas não estou conseguindo nem caminhar até a esquina. Se não tem vaga para consulta na Rede Hora Certa de São Miguel, porque não me mandam para outra unidade? Será que estão esperando eu morrer primeiro?”, questionou.
Entrevista
Anna Trotta Yaryd_Promotora de Justiça
‘Para conhecer as leis que protegem essa população’
Promotora de Justiça, idealizadora e coordenadora do Guia de Serviços de Saúde para a Pessoa Idosa, Anna Trotta Yaryd conta que teve a ideia de fazer a cartilha porque essa faixa etária é a que mais necessita dos serviços de saúde e a mais afetada pelo esgotamento do sistema público.
DIÁRIO_ Embora o atendimento universal de saúde esteja garantido na Constituição e no Estatuto do idoso, isso nem sempre acontece?
ANNA TROTTA YARYD_ Políticas públicas equivocadas tornaram o sistema de saúde do país ineficiente e o que existe disponível não atende a demanda. Isso se torna mais grave na população idosa, justamente a que mais necessita dos serviços de saúde.
A criação da cartilha partiu da constatação no dia a dia do desamparo desta população?
Sim. No nosso trabalho percebemos que as pessoas quando envelhecem muitas vezes não conseguem mais pagar seus planos de saúde e se submetem aos serviços públicos. Daí a necessidade de informarmos sobre os serviços e os direitos dessas pessoas.
Há muito desconhecimento sobre os direitos?
A assistência básica ao idoso é uma preocupação recente, por isso a importância de saber que existem leis específicas de proteção e já há serviços nessa área, porque somente com o efetivo uso desses serviços pela população, mesmo com as limitações presentes, poderemos contribuir para a melhoria da atenção ao idoso pelo SUS.

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